25.11.09

22.11.09



solidão

A sua solidão tem o tamanho da cidade e, como a cidade, não pára de crescer.

6.11.09

pássaros- II

O alarme advém da vista ou do ouvido e, com pressa, passa directamente para as asas. Mas que bela coisa um cerebrozinho desprovido de medo num organismo em fuga! Um dos bichinhos sobressaltou-se? Fogem todos, mas de um modo que parece que dizem: eis uma boa ocasião para ter medo. Não conhecem hesitações. Custa tão pouco fugir quando se tem asas. E o seu voo vai seguro. Evitam os obstáculos roçando neles e atravessam o mais denso emaranhado de árvores sem se deixarem prender ou ferir. Pensam apenas quando já estão longe e procuram então compreender o motivo da fuga, estudando lugares e coisas. Inclinam, graciosos, a cabecinha para a direita e para a esquerda, esperando pacientemente poder regressar ao sítio de onde fugiram. Se medo houvesse em cada uma das suas fugas, estariam já todos mortos.

pássaros- I

À noite, sobre os telhados vizinhos e numa arvorezinha entristecida no quintal, ouvia chilrear os pássaros, pensando que , antes de dobrarem para trás a cabecinha com o sono, contariam as aventuras do dia. De manhã era o mesmo pipilar vivo e sonoro. Contar-se-iam certamente os sonhos da noite. Viviam entre as duas experiências, a da vida real e a dos sonhos. Eram, afinal, animais que possuíam cores, atitudes e ainda uma fraqueza que metia dó, e asas que despertavam inveja, ou seja a verdadeira vida.